Ana Tornada – Núcleo de Estudos Prevenção e Risco Vascular da SPMI
Este ano celebra-se o 10º aniversário do Dia Mundial da Trombose a 13 de outubro, iniciativa global da International Society on Thrombosis and Haemostasis (ISTH), que tem como objetivo alertar a população e a comunidade médica para os riscos e formas de prevenção. A data foi escolhida em homenagem a Virchow, médico alemão, que foi pioneiro na descrição conceito de “trombose” e da sua fisiopatologia.
A “trombose” consiste na formação de um coágulo no interior de um vaso sanguíneo, habitualmente nas veias dos membros inferiores, que causa a obstrução da circulação e inflamação na parede do vaso. Como complicação, pode ocorrer a formação de um trombo que migra na circulação sanguínea (embolização) para se alojar nos vasos de menor calibre, como nos pulmões, manifestando-se com sintomas como a dificuldade respiratória, cansaço, palpitações, dor torácica e alteração do estado de consciência. Nas situações mais graves pode causar choque ou paragem cardiorrespiratória.
Das causas de tromboembolismo venoso (TEV) constam a imobilidade prolongada, cirurgias, trauma, trombofilias (doenças genéticas da coagulação hereditárias ou adquiridas), varizes, gravidez, cancros e certas terapêuticas, incluindo os anticoncecionais. Também o tabaco, o consumo excessivo de álcool, a idade avançada, o colesterol elevado e a obesidade contribuem para o aumento do risco tromboembólico.
É essencial agir preventivamente, adotando medidas simples como uma dieta saudável, a ingestão adequada de água, o controlo de peso e dos níveis de colesterol, evitando o sedentarismo, períodos longos de imobilização, o tabaco e o álcool em excesso. Em determinadas situações, como na doença venosa periférica (varizes), pode estar indicado a utilização de meias de compressão elástica.
O tratamento baseia-se na terapêutica anticoagulante para evitar recorrências. Esta medicação tem-se tornado mais simples, com a disponibilização de estratégias farmacológicas seguras, eficazes e de fácil adesão. A duração é variável, cerca de 3 meses ou indefinidamente, como nos casos em que não se identifique uma causa reversível. A terapêutica trombolítica, os filtros na veia cava inferior e as intervenções endovasculares (trombectomia) estão reservadas para situações muito específicas em ambiente hospitalar.
Para os clínicos, é importante salientar que 60% dos eventos trombóticos ocorrem durante ou após o internamento hospitalar, estimando-se em 10 milhões de hospitalizações por ano no mundo. As complicações da trombose causam a morte de 1 em cada 4 pessoas, contribuindo para a elevada mortalidade cardiovascular.
Esta condição potencialmente fatal pode manifestar-se de forma silenciosa, tornando essencial a prevenção e reconhecimento. A palavra-chave é “profilaxia”, mas a atualização do conhecimento científico é crucial para a adoção das melhores práticas hospitalares, por forma a reduzir a elevada morbi-mortalidade associada. Medidas simples, como o estabelecimento de protocolos institucionais e a comunicação eficaz com os doentes, podem revelar-se muito eficazes.
Este ano, a ISTH desenvolveu a iniciativa global “60 for 60 Fitness Challenge” convidando as pessoas a “mover-se contra a trombose”. Os participantes neste desafio são convidados a movimentarem-se durante 60 segundos a cada 60 minutos, entre os dias 1 e 13 de outubro, e a partilharem este movimento nas redes sociais com o hashtag #WTD60for60.
Na era do digital que nos ajuda a recordar que está na hora de levantar, basta programar! Como já dizia a sabedoria popular – vale mais prevenir do que remediar…