Os portadores de próteses e implantes auditivos “enfrentam exigências inconscientes e barreiras”

António Ricardo Miranda, presidente da Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos (OUVIR), explica o que o levou a criar a Associação e todo o trabalho que têm desenvolvido até hoje no apoio aos portadores de próteses e implantes auditivos.

Pode contar-nos um pouco sobre a história da OUVIR e os principais objetivos da vossa missão?

António Ricardo Miranda (ARM) – A OUVIR – Associação Portuguesa de Portadores de Próteses e Implantes Auditivos foi fundada a 11 de março de 2011 para apoiar pessoas com deficiência auditiva que usufruem de tecnologias de reabilitação auditiva. Como sócio fundador e presidente desde o início, contribuí para transformar uma ideia antiga em realidade. Com formação em Engenharia Eletrotécnica e de Computadores e experiência em voluntariado, reuni um grupo de amigos e juristas para concretizar o projeto. Hoje, após mais de 13 anos, estamos comprometidos em ampliar serviços, sensibilizar a sociedade e fortalecer parcerias para melhorar a qualidade de vida dos nossos membros e da comunidade em geral.

Quais são os principais desafios que os portadores de próteses e implantes auditivos enfrentam em Portugal?

ARM – No caso de Portugal, os portadores enfrentam discriminação e falta de conhecimento sobre tecnologias de reabilitação auditiva na sociedade, sendo muitas vezes confundidos com pessoas surdas que usam Língua Gestual Portuguesa. Enfrentam exigências inconscientes e barreiras na inclusão social, educação e emprego devido à predominância de uma sociedade ouvinte. O esforço mental constante para ouvir pode ser desgastante, e há uma falta comparativa de direitos e benefícios em comparação com outros países europeus e internacionais como Polónia, Brasil, Estados Unidos e Canadá.

Como é que as pessoas se podem associar? Porque é que devem fazê-lo?

ARM – Acredito que as pessoas se devem associar à nossa causa por ser um dever de quem se identifica com ela, direta ou indiretamente. Apenas quem tem hipoacusia usufrui plenamente das vantagens, mas a associação não exige pagamento para ajudar. O nosso objetivo é ser útil ao público, oferecendo informação e apoio. Apesar das limitações legais, valorizamos a contribuição e o envolvimento de mais sócios para fortalecer o nosso núcleo e fazer a diferença. E contamos com todos. Todos são importantes!

De que forma a Associação apoia os seus membros e familiares?

ARM – A Associação apoia através da troca de experiências, do contacto com profissionais de saúde auditiva e de eventos sociais. Oferece indicações corretas e recomendações para que os portadores de deficiência auditiva possam ter uma vida plena e saudável. A interação com outras pessoas com a mesma deficiência e com profissionais experientes é essencial para encontrar soluções eficazes e discutir ações relevantes para a Associação.

Quais são as iniciativas e projetos mais recentes da Associação para promover a inclusão social e a acessibilidade?

ARM – Atualmente, a OUVIR tem desenvolvido várias iniciativas e projetos para promover a inclusão social e acessibilidade. Teremos brevemente a publicação de um livro sobre surdez com contribuições de várias partes interessadas, a organização da Semana do Som (para o qual fui nomeado para Embaixador da UNESCO), que está agendada para 2025, a participação em fóruns internacionais de saúde e temos trabalhado para estabelecer relações com o Instituto Nacional de Reabilitação. A Associação também planeia criar uma Federação Internacional de Saúde Auditiva dos Países de Língua Oficial Portuguesa e tem projetos de ação e capacitação para pessoas com deficiência auditiva a serem desenvolvidos nos setores do trabalho, educação, acessibilidade e apoios financeiros.

Pode explicar-nos como é o processo de adaptação a uma prótese ou implante auditivo?

ARM – A adaptação a uma prótese ou implante auditivo varia de pessoa para pessoa. Começa com um diagnóstico preciso feito por um médico Otorrinolaringologista, seguido pela escolha do dispositivo adequado com a ajuda de um Audiologista. Após a colocação são feitos ajustes técnicos e acompanhamentos para garantir o funcionamento correto. Para os implantes auditivos, há um período de aprendizagem, de forma que a pessoa se possa habituar aos novos sons. É frequentemente acompanhado de terapia auditiva para maximizar os benefícios do dispositivo, especialmente em casos de surdez precoce ou longa duração.

Que tipo de apoio psicológico ou emocional a Associação oferece aos novos utilizadores de próteses e implantes auditivos?

ARM – A Associação enfrenta desafios na oferta de apoio psicológico ou emocional específico para novos utilizadores de próteses e implantes auditivos em Portugal, devido à escassez de psicólogos especializados nessa área. Frequentemente, abordam cada caso individualmente e, quando necessário, recomendam consultoria com profissionais de saúde auditiva. Alguns hospitais de referência na reabilitação auditiva começam a oferecer suporte psicológico ou psiquiátrico em casos mais complexos. Além disso, o apoio de familiares, amigos e de outras pessoas com deficiência auditiva é valorizado, sendo os encontros promovidos pela Associação potencialmente benéficos para essas pessoas.

Quais são as maiores barreiras que ainda precisam ser superadas em termos de políticas públicas para melhorar a vida dos portadores de deficiências auditivas em Portugal?

ARM – Portugal enfrenta desafios significativos para melhorar a vida dos portadores de deficiência auditiva, onde têm de ser feitos esforços, no que remete a melhorias na acessibilidade a espaços públicos e privados que não dispõem de estruturas nem formação em comunicação inclusiva, apoios financeiros mais elevados para dispositivos auditivos, garantia de igualdade de direitos nas áreas da educação, saúde e emprego. Devem ser feitas campanhas educativas que reduzam o desconhecimento e preconceito ainda existente, ampliar o acesso a apoio psicológico e reabilitação, investir em tecnologias auditivas acessíveis e fortalecer a aplicação das leis já existentes enquanto se cria novas políticas inclusivas.

Que conselhos daria a alguém que acabou de ser diagnosticado com perda auditiva e está a considerar usar uma prótese ou implante auditivo?

ARM – Para alguém que foi recentemente diagnosticado com perda auditiva e está a ponderar usar uma prótese ou implante auditivo, é aconselhável procurar um especialista para um diagnóstico completo e discutir as opções de tratamento. Informar-se sobre os diferentes tipos de dispositivos disponíveis, considerar as suas necessidades pessoais e estilo de vida, realizar testes e ajustes necessários na prótese ou implante, participar em grupos de apoio, procurar apoio psicológico se necessário, e manter a manutenção regular do dispositivo são passos importantes para uma adaptação bem-sucedida e melhor qualidade de vida auditiva.

Quais são as perspetivas futuras para a OUVIR e que objetivos esperam alcançar nos próximos anos?

ARM – Após 13 anos de atividade, a OUVIR tem como perspetivas futuras a expansão dos serviços de apoio aos sócios e às pessoas com deficiência auditiva, maior sensibilização pública, fortalecimento de parcerias institucionais, obtenção de apoio financeiro e legal, desenvolvimento de projetos internacionais, promoção da inovação tecnológica em saúde auditiva, melhoria da acessibilidade e crescimento da comunidade de sócios. Estas iniciativas visam criar um ambiente mais inclusivo e melhorar a qualidade de vida dos portadores de deficiência auditiva em Portugal.

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