Sara Vilas Boas – Médica Psiquiatra
Uma em cada cinco pessoas sofre de doença mental. Promover a saúde mental deve ser uma prioridade para a população e todas as pessoas devem estar alerta aos sinais.
Se a pandemia de COVID-19 aumentou a prevalência das perturbações depressivas e ansiosas, também nos fez pensar mais na forma como tratamos a nossa saúde mental. Mesmo quando já decidimos procurar ajuda, deparamo-nos com um novo desafio: onde encontrar um ambiente propício ao nosso tratamento?
Psiquiatra ou Psicólogo: como escolher?
Esta é uma das questões mais difíceis quando se tenta iniciar um processo de tratamento. Afinal quem é que vamos escolher, um psiquiatra ou um psicólogo?
Os psiquiatras e os psicólogos trabalham, em conjunto, com o propósito de melhorar a saúde mental e usam técnicas e intervenções que são complementares. A Psiquiatria é uma especialidade médica dedicada ao diagnóstico e tratamento das doenças mentais e que pode incluir a prescrição de medicamentos, nos casos necessários. Já a Psicologia Clínica é uma disciplina que intervém nos processos mentais e no comportamento humano com o objetivo de gerar mudança ou diminuir o sofrimento.
O recurso a um psiquiatra é o primeiro passo para que possa compreender melhor as suas necessidades. O psiquiatra poderá diagnosticar, explicar e aconselhar sobre as possíveis formas de intervenção e respetivos planos de tratamento. Cada plano de tratamento é individualizado e totalmente adequado às necessidades de cada paciente e pode incluir tratamento psicológico e tratamento farmacológico.
Tratamento Psicológico
As consultas de Psicologia podem ter diferentes orientações teóricas e técnicas. Os tipos mais comuns de Psicoterapia, que podem ser praticados tanto por psiquiatras, como por psicólogos com a devida formação, são cognitivo-comportamental, psicanalítica, breve e interpessoal. As consultas são também especializadas em áreas de intervenção, tais como a depressão, ansiedade, burnout ou luto. Podem ser intervenções semanais, quinzenais ou ajustadas às necessidades de cada um. O planeamento das sessões é dinâmico ao longo do seguimento e é ajustado com as problemáticas trazidas à consulta. Após uma fase de intervenção mais intensiva é comum iniciarmos uma fase de manutenção das mudanças ganhas no início da terapia.
Tratamento Farmacológico
Em alguns casos clínicos é necessária a aliança entre a intervenção psicológica e o tratamento com medicamentos. É na consulta de Psiquiatria que são prescritos os psicofármacos que são aprovados e indicados para o tratamento das perturbações mentais.
As classes principais são os antidepressivos, os ansiolíticos e hipnóticos, estabilizadores de humor e antipsicóticos.
Os antidepressivos são medicamentos aprovados para tratar diversas doenças como a depressão, a ansiedade e as perturbações obsessivo-compulsivas e as perturbações do comportamento alimentar. A sua ação inicia-se 3 a 4 semanas após o tratamento e tem como objetivo a regulação dos neurotransmissores envolvidos na regulação do humor. Os antidepressivos não causam dependência, mas devem ser iniciados e descontinuados com indicação médica.
Os ansiolíticos e hipnóticos são utilizados em situações ocasionais de ansiedade ou de dificuldade em dormir. Ajudam no imediato, mas não tratam a causa do sintoma, por exemplo a perturbação depressiva. Apresentam ainda um risco aumentado de dependência.
Os estabilizadores do humor são medicamentos que ajudam na regulação do humor, ou seja, do estado de ânimo da pessoa e permitem controlar as oscilações extremas de humor.
Os antipsicóticos são medicamentos utilizados no tratamento de sintomas psicóticos que estão presentes num grande número de doenças, tais como a esquizofrenia, a perturbação bipolar, a depressão, a demência, entre outros.
Áreas de Intervenção
A Psiquiatria e a Psicologia vão intervir no tratamento da doença mental e, também, na promoção da saúde mental. São exemplos de situações em que há necessidade de intervenção: os problemas relacionais, eventos de vida, instabilidade emocional, ansiedade, depressão, burnout, insónia, alteração do comportamento alimentar, demências, perturbações da personalidade, doença bipolar, psicose.
O presente texto tem o objetivo de ajudar a direcionar a sua escolha quando confrontado com a necessidade de recorrer a profissionais de saúde mental.
Caso se encontre a passar por um episódio de sofrimento psicológico, não hesite em procurar a ajuda de um profissional.