A pandemia na pele!

A pandemia na pele
Paulo Alves, Associação Portuguesa de Tratamento de Feridas

Paulo Alves – Enfermeiro | Diretor-Adjunto do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa | Diretor da Escola de Enfermagem (Porto) da Universidade Católica Portuguesa | Presidente da Direção da Associação Portuguesa de Tratamento de Feridas

Uso de máscara, desinfeção das mãos e distanciamento social são as três medidas mais comuns para a prevenção da COVID-19, contudo as duas primeiras podem alterar as condições ideais da pele na face e nas mãos.

No início da pandemia, foram diversas as publicações que falaram de lesões na pele causadas pelo uso de equipamento de proteção individual nos profissionais de saúde, contudo estas alterações devem-se à sua utilização pelos mesmos em situação de stress, por longos períodos de tempo e em condições ambientais de temperatura e humidade aumentadas, factos que aumentam o risco de irritação ou lesão cutânea. A população em geral, durante a pandemia, não está livre deste problema, pois os nossos hábitos sociais e de higiene corporal diários mudaram drasticamente: passámos a lavar as mãos e/ou a desinfetá-las com soluções antimicrobianas, com muito maior frequência, e o uso da máscara tornou-se um adereço obrigatório, muitas vezes por longos períodos. Estas duas medidas podem contribuir para a irritação da pele e alterar as condições ideais, se não a protegermos de forma adequada.

Ter cuidados com a pele das mãos e do rosto pode ajudar a reduzir estes efeitos. Desta forma, é necessário definir os cuidados à pele nos princípios de proteger, limpar e restaurar a pele. A recomendação de lavar as mãos frequentemente com água e sabão, pelo menos durante 20 segundos, ou o uso de um desinfetante à base de álcool mantém-se sem alterações, contudo sabemos que este aumento de frequência de higiene das mãos remove a gordura natural e protetora da pele, tornando-a mais seca e propensa a quebras e gretas, pelo que podemos acrescentar alguns cuidados diários. A limpeza e hidratação devem ser reforçadas, tendo em conta alguns aspetos que pode encontrar em destaque nesta página. Quanto ao uso da máscara, esta tornou-se obrigatória, pelo que, em condições de uso prolongado, em que o suor e a humidade são uma constante, pode causar irritações nos locais de maior fricção como o nariz, bochechas, queixo e até mesmo nos locais de fixação atrás das orelhas. Os cuidados de higiene e hidratação aumentados são obrigatórios, bem como aliviar ou alternar os locais de contacto da máscara com determinadas áreas específicas do rosto.

Serve de alerta que os hidratantes e a frequência de lavagem diferem nos cuidados às mãos e à face, contudo os princípios preventivos são semelhantes. Os cuidados com a pele, com aplicações diárias de hidratação e proteção, reforçam áreas que estão em risco (mãos e face) e fornecem maior proteção às próximas utilizações. Os profissionais de saúde têm indicações mais específicas relativamente a estes dois aspetos pelo que as sugestões aqui referidas são indicadas para a população em geral sem patologia dermatológica.

Consulte sempre os seus médicos e enfermeiros de família, em caso de dúvidas. Estas lesões podem não parecer, mas são muito dolorosas! A prevenção é sempre mais efetiva do que o tratamento quando a pele já está lesada, evita complicações secundárias como infeções e evita dor e sofrimento. Quanto melhores as condições da pele, mais resistente ela será face às agressões. Proteja-se a si e à sua pele!

Cuidados a ter na limpeza e hidratação da pele das mãos e da face:

  1. A pele deve ser lavada suavemente com água morna;
  2. Deverá utilizar soluções/detergentes hipoalergénicos e sintéticos;
  3. Após cada lavagem, enxágue e seque de forma delicada, sem esfregar;
  4. Use um hidratante com uma formulação simples, de preferência sem aditivos potencialmente irritantes (ex.: fragrâncias, ácidos-exfoliantes retinoides e despigmentantes);
  5. Em caso de lesões/úlcerações e flictenas/bolhas, recomenda-se a consulta do seu médico/enfermeiro de família para implementação de boas práticas no tratamento de feridas.

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